sábado

A primeira vez de um homem (parte 1)



(Não importa a idade ou a época: existem certos conceitos que, simplesmente, são fato. E, certamente, o fascínio dos meninos pelos carros é um deles. )


Lá pelos idos de 1927, um garotinho de 10 anos suspirava, sentado no meio-fio da rua principal da cidadezinha onde morava. Algumas pessoas já haviam adquirido a recém-chegada "coqueluche do momento": os automóveis. "Só papai não" - pensava consigo, o frustrado menino. A família até tinha condições de ter um - a queijaria ia bem - mas "papai" não quisera curvar-se às novidades da vida moderna. Sendo assim, restava ao menino olhar, maravilhado, os exemplares que, vagarosamente, desfilavam a sua frente, enquanto suspirava.

Seus pensamentos voavam longe quando um chamado o despertou: "Vamos lá! Está na hora do nosso passeio!" E seguiram em silêncio, pai e filho, na carroça da família, até a escola - da qual "papai" era o professor. Já com o restante da turma a bordo, seguiram para o piquenique. Com o local escolhido e a toalha já esticada - embaixo de um frondoso pé de ingá - o menino logo se prontificou a subir nele para derrubar um galho carregado da deliciosa fruta. Então, com o facão preso ao elástico da bermuda, iniciou a escalada. Várias galhadas acima, sacou-o e golpeou o galho, que caiu ao chão repleto de ingás, para deleite da petizada. A descida acontecia tranquilamente quando, no último lance de galhos pisou em falso. E o pior aconteceu: o facão (sem bainha) preso à bermuda felizmente não o cortara, mas a queda quebrou o seu braço em vários lugares. E "papai" correu para chamar o Sr. Pavlovsky, proprietário de um novo e poderosíssimo carro. E este, imediatamente, prontificou-se levar o menino para o hospital da cidade vizinha.

Foi quando a dor e o sofrimento do menino, com o braço seriamente machucado, tornaram-se secundários diante do deslumbre pela possibilidade de realizar seu sonho de - pela primeira vez - andar numa daquelas novidades da vida moderna pela qual ele tanto suspirava. E foi a meia hora mais marcante da sua infância.

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A primeira vez de um homem (parte 1)



(Não importa a idade ou a época: existem certos conceitos que, simplesmente, são fato. E, certamente, o fascínio dos meninos pelos carros é um deles. )


Lá pelos idos de 1927, um garotinho de 10 anos suspirava, sentado no meio-fio da rua principal da cidadezinha onde morava. Algumas pessoas já haviam adquirido a recém-chegada "coqueluche do momento": os automóveis. "Só papai não" - pensava consigo, o frustrado menino. A família até tinha condições de ter um - a queijaria ia bem - mas "papai" não quisera curvar-se às novidades da vida moderna. Sendo assim, restava ao menino olhar, maravilhado, os exemplares que, vagarosamente, desfilavam a sua frente, enquanto suspirava.

Seus pensamentos voavam longe quando um chamado o despertou: "Vamos lá! Está na hora do nosso passeio!" E seguiram em silêncio, pai e filho, na carroça da família, até a escola - da qual "papai" era o professor. Já com o restante da turma a bordo, seguiram para o piquenique. Com o local escolhido e a toalha já esticada - embaixo de um frondoso pé de ingá - o menino logo se prontificou a subir nele para derrubar um galho carregado da deliciosa fruta. Então, com o facão preso ao elástico da bermuda, iniciou a escalada. Várias galhadas acima, sacou-o e golpeou o galho, que caiu ao chão repleto de ingás, para deleite da petizada. A descida acontecia tranquilamente quando, no último lance de galhos pisou em falso. E o pior aconteceu: o facão (sem bainha) preso à bermuda felizmente não o cortara, mas a queda quebrou o seu braço em vários lugares. E "papai" correu para chamar o Sr. Pavlovsky, proprietário de um novo e poderosíssimo carro. E este, imediatamente, prontificou-se levar o menino para o hospital da cidade vizinha.

Foi quando a dor e o sofrimento do menino, com o braço seriamente machucado, tornaram-se secundários diante do deslumbre pela possibilidade de realizar seu sonho de - pela primeira vez - andar numa daquelas novidades da vida moderna pela qual ele tanto suspirava. E foi a meia hora mais marcante da sua infância.

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