terça-feira

Tempos modernos - e chega o cinema


O cinema já havia sido inventado há algum tempo, mas cidadezinhas de interior de um país recém colonizado não eram exatamente os primeiros lugares em que a modernidade costumava aportar. (Embora possa-se dizer aliviado que "antes tarde que mais tarde"!)

O Sr. Holzwarth foi pioneiro em trazer seu cinema itinerante para diversas comunidades da região. E sempre que chegava a sua caravana, a cidade entrava em festa! Pessoas curiosas ansiavam por ver como era aquilo que tantos falavam, alguns receosos pelo que estariam prestes a testemunhar, enquanto outros praguejavam a captura da alma das pessoas por aquela máquina. 

Naquela época, os "enlatados" que o senhorio trazia eram os bang-bangs. E, como os filmes eram mudos, era costume contratar músicos da localidade para fazer um fundo musical para a película.

Papai apressou-se em oferecer seus préstimos e de seu filho para tocarem violino nas sessões. Garantiu ao Sr. Holzwarth que, apesar dos 10 anos recém completados, ele era um excelente violinista. E, de fato, era. Pois se tinha uma coisa que papai ensinara-lhe bem era como encantar as pessoas com seu violino companheiro. E conseguira, assim, seu primeiro emprego: como violinista nas sessões do cinema itinerante.

Três, dois, um. Trouxeram um repertório bem organizado de marchinhas e valsas - que era o que se tocava nos westerns da época. (!) E puseram-se os dois a tocar para uma plateia repleta. A primeira canção, a segunda... e as primeiras imagens começaram a surgir na tela: o menino maravilhou-se com a coisa mais bonita que já vira na vida. Boquiaberto, petrificado, sem ação, absolutamente entregue, ele estava hipnotizado. Logo sentiu um cutucão do pai, trazendo-o de volta à realidade. Novas notas, nova música.. e logo tinha atrasado novamente o compasso até que seu violino, mais uma vez, emudeceu. E ele ali, encantado com o que via. Ouviu alguma coisa ao fundo, como um sussurro ríspido, meio confuso e abafado, mas não conseguia prestar atenção em som algum, mirava apenas naquelas imagens que pareciam estar em câmera lenta, parecia que só havia ele e a tela no salão, tamanha a sua beleza e poesia.

Voltou a si quando percebeu que o sussurro ríspido e abafado era na verdade o Sr. Holzwarth bufando em seu cangote, distituindo-o em definitivo do cargo de violinista de cinema itineirante. 

E foi assim que, além do seu primeiro emprego, conseguira, também, a sua primeira demissão!

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Tempos modernos - e chega o cinema


O cinema já havia sido inventado há algum tempo, mas cidadezinhas de interior de um país recém colonizado não eram exatamente os primeiros lugares em que a modernidade costumava aportar. (Embora possa-se dizer aliviado que "antes tarde que mais tarde"!)

O Sr. Holzwarth foi pioneiro em trazer seu cinema itinerante para diversas comunidades da região. E sempre que chegava a sua caravana, a cidade entrava em festa! Pessoas curiosas ansiavam por ver como era aquilo que tantos falavam, alguns receosos pelo que estariam prestes a testemunhar, enquanto outros praguejavam a captura da alma das pessoas por aquela máquina. 

Naquela época, os "enlatados" que o senhorio trazia eram os bang-bangs. E, como os filmes eram mudos, era costume contratar músicos da localidade para fazer um fundo musical para a película.

Papai apressou-se em oferecer seus préstimos e de seu filho para tocarem violino nas sessões. Garantiu ao Sr. Holzwarth que, apesar dos 10 anos recém completados, ele era um excelente violinista. E, de fato, era. Pois se tinha uma coisa que papai ensinara-lhe bem era como encantar as pessoas com seu violino companheiro. E conseguira, assim, seu primeiro emprego: como violinista nas sessões do cinema itinerante.

Três, dois, um. Trouxeram um repertório bem organizado de marchinhas e valsas - que era o que se tocava nos westerns da época. (!) E puseram-se os dois a tocar para uma plateia repleta. A primeira canção, a segunda... e as primeiras imagens começaram a surgir na tela: o menino maravilhou-se com a coisa mais bonita que já vira na vida. Boquiaberto, petrificado, sem ação, absolutamente entregue, ele estava hipnotizado. Logo sentiu um cutucão do pai, trazendo-o de volta à realidade. Novas notas, nova música.. e logo tinha atrasado novamente o compasso até que seu violino, mais uma vez, emudeceu. E ele ali, encantado com o que via. Ouviu alguma coisa ao fundo, como um sussurro ríspido, meio confuso e abafado, mas não conseguia prestar atenção em som algum, mirava apenas naquelas imagens que pareciam estar em câmera lenta, parecia que só havia ele e a tela no salão, tamanha a sua beleza e poesia.

Voltou a si quando percebeu que o sussurro ríspido e abafado era na verdade o Sr. Holzwarth bufando em seu cangote, distituindo-o em definitivo do cargo de violinista de cinema itineirante. 

E foi assim que, além do seu primeiro emprego, conseguira, também, a sua primeira demissão!

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