terça-feira

A primeira vez de um homem (parte 2)


Aos 16 anos, ele já trabalhava na loja de secos e molhados da Sra. Maria Cândida. E entre colocar o açúcar a secar ao sol e atender os clientes, ele acabara de ganhar uma nova atribuição: guardar o carro da patroa, ao final do dia, na garagem - que era um pouco afastada da vendinha. Aquilo seria o céu para aquele menino fascinado por automóveis. Estava ansioso pela sua primeira vez: ainda hoje ele teria um daqueles possantes em suas mãos só seu... mesmo que somente num pequeno espaço de tempo. Chegara o seu momento, aquele com o qual ele sonhara desde menino. E foi, heróico, cumprir a sua tarefa. Parou em frente ao lustroso e brilhante Ford A novinho e fitou-o longamente, absolutamente entorpecido pela beleza daquela máquina. Respirou fundo enquanto lembrava da conversa que teve pela manhã com a Dna. Mimi:

- Você tem certeza que pode? Sabe dirigir um carro?

- Com toda certeza! - respondera com segurança à patroa. (Oras, o que poderia ser tão difícil em guiar um carro? Afinal, já tinha visto seus vizinhos dirigindo milhões de vezes, sabia as funções dos dois pedais... aquilo realmente não devia ter segredo nenhum!)

Enfim, embarcou no carro. Sentia-se num turbilhão de sensações - medo e ansiedade, alegria e êxtase. Não conseguia esconder a inquietação. Prendeu a respiração e deu a partida. Ah, que som maravilhoso! Aquele motor roncava em seu coração, cantava em seus ouvidos. Engatou a primeira marcha, inebirado por aquela indescritível sensação de poder. Acelerou suavemente. E sorriu. Aquilo era libertador! Mirou na garagem e gentilmente aproximou-se dela. O serviço estava transcorrendo brilhantemente.. Quando, de supetão, acelerador e freio obscuramente pareceram inverter-se e a poderosa máquina deu uma guinada, desembestando sem controle morro abaixo. (...)

E foi assim que, de carro e tudo, ele acabara de atravessar a sua primeira parede. E foi desta forma que o automóvel da Dna. Mimi viu o Rio Itajaí Açú de camarote, pendendo para a frente e para trás, como gangorra, preso nos escobros pelo meio do chassi. E foi assim sua primeira vez. Inesquecível. Não exatamente pelos motivos que ele vislumbrara sua vida inteira. Mas ainda assim... inesquecível.

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A primeira vez de um homem (parte 2)


Aos 16 anos, ele já trabalhava na loja de secos e molhados da Sra. Maria Cândida. E entre colocar o açúcar a secar ao sol e atender os clientes, ele acabara de ganhar uma nova atribuição: guardar o carro da patroa, ao final do dia, na garagem - que era um pouco afastada da vendinha. Aquilo seria o céu para aquele menino fascinado por automóveis. Estava ansioso pela sua primeira vez: ainda hoje ele teria um daqueles possantes em suas mãos só seu... mesmo que somente num pequeno espaço de tempo. Chegara o seu momento, aquele com o qual ele sonhara desde menino. E foi, heróico, cumprir a sua tarefa. Parou em frente ao lustroso e brilhante Ford A novinho e fitou-o longamente, absolutamente entorpecido pela beleza daquela máquina. Respirou fundo enquanto lembrava da conversa que teve pela manhã com a Dna. Mimi:

- Você tem certeza que pode? Sabe dirigir um carro?

- Com toda certeza! - respondera com segurança à patroa. (Oras, o que poderia ser tão difícil em guiar um carro? Afinal, já tinha visto seus vizinhos dirigindo milhões de vezes, sabia as funções dos dois pedais... aquilo realmente não devia ter segredo nenhum!)

Enfim, embarcou no carro. Sentia-se num turbilhão de sensações - medo e ansiedade, alegria e êxtase. Não conseguia esconder a inquietação. Prendeu a respiração e deu a partida. Ah, que som maravilhoso! Aquele motor roncava em seu coração, cantava em seus ouvidos. Engatou a primeira marcha, inebirado por aquela indescritível sensação de poder. Acelerou suavemente. E sorriu. Aquilo era libertador! Mirou na garagem e gentilmente aproximou-se dela. O serviço estava transcorrendo brilhantemente.. Quando, de supetão, acelerador e freio obscuramente pareceram inverter-se e a poderosa máquina deu uma guinada, desembestando sem controle morro abaixo. (...)

E foi assim que, de carro e tudo, ele acabara de atravessar a sua primeira parede. E foi desta forma que o automóvel da Dna. Mimi viu o Rio Itajaí Açú de camarote, pendendo para a frente e para trás, como gangorra, preso nos escobros pelo meio do chassi. E foi assim sua primeira vez. Inesquecível. Não exatamente pelos motivos que ele vislumbrara sua vida inteira. Mas ainda assim... inesquecível.

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