domingo

A AHUA do Tio Alvin



O Tio Alvin foi para Florianópolis estudar odontologia. Formou-se dentista e casou-se com a Tia Érika. Todos gostavam dele, pois era muito bem-humorado – adorava uma bagunça! E gostava de dormir. Aliás, toda família tinha fama de Langschläflich (dorminhocos) desde sempre: enquanto vizinhos acordavam às 4h da manhã para iniciar as tarefas, ali nunca tinha ninguém acordado antes das 7. Fazendo jus à tradição familiar, às vezes, o paciente já estava aguardando no consultório enquanto a Tia Érika tinha dificuldades de acordá-lo.

Mas era um filho dedicado: vinha visitar os pais com bastante assiduidade, apesar da viagem penosa: saía de Mafra com sua família bem cedinho, pela manhã, e chegava a Pomerode somente à noite, viagem que hoje leva pouco mais de uma hora e meia. Em meados de 1940, comprou um Ford A. E, quando vinha, já buzinava escandalosamente desde lá de longe e, assim, os primos e sobrinhos pequenos já corriam para fora festejando sua chegada, gritando empolgadamente para os adultos: “Lá vem a AHUA do Tio Alvin!”. O apelido “Ahua” surgiu do som que a buzina que o automóvel fazia. Por ironia do destino, num fatídico dia 31 de dezembro, foi atropelado por uma “ahua” dirigida por três rapazes que festejavam o dia de São Silvestre (ano novo), em frente de casa – foi um dos maiores choques que a família já teve. A casa foi vendida em seguida, pois sua viúva não conseguia olhar para fora sem lembrar do acidente. 

Fatalidades e dramas familiares levam anos (ou gerações) para cicatrizar... mas as doces lembranças das gritarias e da alegria pela visita do Tio Alvin com sua AHUA ecoam reluzentes - e barulhentas - na memória de quem fica.

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A AHUA do Tio Alvin



O Tio Alvin foi para Florianópolis estudar odontologia. Formou-se dentista e casou-se com a Tia Érika. Todos gostavam dele, pois era muito bem-humorado – adorava uma bagunça! E gostava de dormir. Aliás, toda família tinha fama de Langschläflich (dorminhocos) desde sempre: enquanto vizinhos acordavam às 4h da manhã para iniciar as tarefas, ali nunca tinha ninguém acordado antes das 7. Fazendo jus à tradição familiar, às vezes, o paciente já estava aguardando no consultório enquanto a Tia Érika tinha dificuldades de acordá-lo.

Mas era um filho dedicado: vinha visitar os pais com bastante assiduidade, apesar da viagem penosa: saía de Mafra com sua família bem cedinho, pela manhã, e chegava a Pomerode somente à noite, viagem que hoje leva pouco mais de uma hora e meia. Em meados de 1940, comprou um Ford A. E, quando vinha, já buzinava escandalosamente desde lá de longe e, assim, os primos e sobrinhos pequenos já corriam para fora festejando sua chegada, gritando empolgadamente para os adultos: “Lá vem a AHUA do Tio Alvin!”. O apelido “Ahua” surgiu do som que a buzina que o automóvel fazia. Por ironia do destino, num fatídico dia 31 de dezembro, foi atropelado por uma “ahua” dirigida por três rapazes que festejavam o dia de São Silvestre (ano novo), em frente de casa – foi um dos maiores choques que a família já teve. A casa foi vendida em seguida, pois sua viúva não conseguia olhar para fora sem lembrar do acidente. 

Fatalidades e dramas familiares levam anos (ou gerações) para cicatrizar... mas as doces lembranças das gritarias e da alegria pela visita do Tio Alvin com sua AHUA ecoam reluzentes - e barulhentas - na memória de quem fica.

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